segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Casinha do esquecimento - primeira versão

Era cedo, mal o dia raiava... e lá estavam eles cuidando de um terreno invisível, o do bem querer. E é assim, as pessoas acordam cedo, no interior isso é uma cultura... acordar cedo é quase natural (se não fosse aprendido), a vida convida ao raiar do sol, que entra pelas frestas das janelas. É bem verdade, que as frestam não nos acompanham aqui na metropole - as cortinas fecham o convite da natureza.
O fato é que é cedo que se cuida, do quintal, da vida que nos cerca, mesmo quando não nos rodeia.
Tem dias que o tempo, em verdade a falta dele não nos permite ir, cuidar do invisível. De repente, não mais que de repente... nos terrenos sonhados, se controem pequenos alicerces. Alicerces para uma casa por vezes miúda, de longe, desaperdebidamente, nem a notamos, poderia dizer que ela se constrói calma e silenciosa, no silêncio firmado.
Por vezes nos damos conta ... e dizemos, vaila - de onde surgiram essas paredes, até ontem não havia percebido. Paredes que não se sustentam em desafetos, desagrados, chateações ... se sustentam apenas, em algo nem sempre intencional... o silêncio.
Quando a vemos - corremos, vamos lá e destruímos cada parede, mandamos cercar, desocupar e implodir.
Um casinha que se constrói silenciosa... na calada da noite, nas palavras guardadas, nos beijos perdidos, dos poemas amassados, das fotos amareladas. A casinha do esquecimento.

Uma história sobre o dizer do povo do sertão, "tá casa do esquecimento".