quinta-feira, 23 de julho de 2015

Esperando

Coloco-me ao pé da janela,
Seja em março ou agosto,
Vejo um mundo de luzes,
Vejo cores em olhos brilhantes,
O pensamento vai, voa longe.

Vou, vou mais longe,
Pensamento vagueia
Entre janelas, velocidades,
Entre flores, e chuva no fim da tarde,
O corpo vai também,
Vai em tudo que sinto.

Abra os braços, abraça-me.
Encosta meus pensamentos
Em seu peito, eu me calo.
Cabe, nossa alegria, em meu olhar.

Vamos, vem, na roda da vida,
Cabem muitas músicas,
Cabe o Chico e o Jeneci,
Cabe a valsa e o tango.
Eu danço lentamente
Na sua blusa de botão.

Sempre dá tempo,
Tem mais um minuto,
Tem cerveja no copo,
Tem peças no tabuleiro,
Tem um livro na mesa e
Um poema inacabado.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Joana, depois da França.

O primeiro encontro
Podia ter sido diferente.
Mas o primeiro encontro
É assim inesperado.
Não, não foi bom.
Ela não queria estar lá.
Estavam de lados opostos,
Ela se desagradava dele
E de tudo ao seu redor.
Era fevereiro ou março...
Meio carnaval... Meio começo de ano.

Ela o viu algumas vezes
Mas não queria vê-lo
Ele andava tão mal acompanhado,
Tudo ao redor dele era inóspito

O tempo deles, do encantamento,
Nutriu-se de gestos pequenos no mundo
Com cheiro de gente, tempo de chuva,
Fim de tarde, boca da noite,
Banda na rua, banheiras coloridas,
Palavras floridas de cotidiano
Luzes de natal, tapioca na praça,
Encontros e desencontros,
saudades sem motivo,
Das escadas ao salão,
Mãos dadas com o Drummond,
Abraços gratuito e afetivos.
Assim, um dia, deram-se conta,
Como na valsinha do Chico.

Um dia as palavras quizeram se ditas.
Tantas coisas, sensações,
Histórias, ideias para serem ditas.
Numa sexta-feira qualquer,
O mar, o fim, a brisa convidaram as mãos
Para o derradeiro encontro
Suave e intenso.

O encanto se encheu de coragem e audácia.
A sanidade se afastou.
A memória dele se infiltrava
Nas pausas do pensamento dela.

Quiseram regar, mas não era jardim,
Ainda que fosse belo.
Passado uns anos, eles não sabem nomear.
Talvez sem nome seja mais claro.
Sei que ainda se falam, se alegram.
E as vezes é um  alento, uma memória.
O bem querer e assim,
Sem base, nem motivo.
A memória nao nutre nem esquece.

No silêncio, na ausência,
Ainda nutrem beleza e vida.

Quando ela me conta,
Escuto tantas virgulas
Sei o quanto o seu olhar me diz.
Sei que não sei de nada,
E sei que é assim que é agora.

Abismo, eis a metáfora do medo.

Uma sensação de beira do abismo.
Um susto, uma vertigem.
De manhã cedo, ainda tinha vontade e medo.
Me escorei na beira do meu abismo.
O desejo, o ímpeto e o medo.
Fazia tempo, que o medo derradeiro não se apresentava.
Ainda me assusto.
O silêncio me causa estranheza.

Acordei menos do que era ontem
Não posso negar, estava lá posta ao lado
Não daria para pensar que era de vidro.

Sim, a velocidade não cabe nos meus registros,
Em verdade nem o cabimento
da autorização despropositada.

Sim eu sou assim,
Eu vou, nem que dê trabalho juntar o que restar.
Mas hoje, não ficou bem.
Muitas coisas no juízo pra desordenar,
Tantas variáveis a alimentar delírios.

Foi, é como eu já sei, é no silêncio,
No mais profundo silêncio.
Que melhor escutamos o que escondemos.

Amigos

Amizade, um sentimento que atravessa, uma travessia de si mesmo.

Um lugar vivo, que não se nutre de presença, mas na presença dança.

Que não precisa de poesia, mesmo que se alegre com ela.

É, a amizade tem tantas músicas e não se exime no silêncio, não sofre com distância.

Viver é ato pleno de possibilidades, que ao lado do outro é mais, muito mais...

Vamos de mãos dadas já diria o Drummond.