O impossível

Beira de abismo, precipício
Não dá pra ser
Distância e solidão
Não dá pra ser
Tempo contato
Palavras medidas
Escoradas na mentira
Não dá pra ser.

Não falta afeto
Não falta vontade
Não falta desejo
Não falta sonhos
Não falta nada
Que não liberdade,
Inteireza e verdade.

Não dá pra ser feliz
Não dá pra sorrir
Assim, na saudade.
Não dá pra ser feliz
Pela metade

Sim, sei eu fui
Sei que eu quis
Eu já sabia
Mas não dá pra ser.

Agora fico aqui
Esperando o tempo
Festivo e sereno
Mãos dadas no mar
No carnaval suspirar
Horizonte pra olhar
Livros para compartilhar
Anoitecer e acordar
No silêncio dançar
Deixar a cerveja esfriar
Não cansar
O corpo esquentar
Músicas para embalar
Uma dança nova
Cuidar e zelar.

Um verbo
Uma ação
Esperançar.

De outro jeito, quem sabe?

Beira de abismo, precipício
Não dá pra ser
Distância e solidão
Não dá pra ser
Tempo contato
Palavras medidas
Escoradas na mentira
Não dá pra ser.

Sim, sei eu fui
Sei que eu quis
Eu já sabia
Mas não dá pra ser.

Não dá pra ser feliz
Não dá pra sorrir
Assim, na saudade.
Quero
Mãos dadas na rua.
Horizonte pra olhar
Livros para compartilhar
Músicas para embalar
Uma dança nova
Cuidar e zelar.

Não falta afeto
Não falta vontade
Não falta desejo
Não falta sonhos
Não falta nada
Que não liberdade,
Inteireza e verdade.

Não dá pra ser feliz
Pela metade

Cultivar

Todo amor que sinto
Traduzido em cuidado
Em cheiro
Em cor
Em sabor
De ser mais
Mais parecida
Comigo mesma
E com a vida
Leve e clara
Doce e serena
Que também sou!!!

No cultivo da vida
Jardineira de mim mesma
Como amor
Como arte.

Simples
Gratuita
Sem pressa
Com saudades
De todos
Os lugares
Que fazem meu peito
Bater pleno
Feliz.

Revolto mar

Não sei o que dizer
Não quero dizer
Nada.

O silêncio
Não acalanta
Tudo que deveria
Ter dito
Sentido
Vivido.

O mar me toma
A areia dos pés
Arrasta
Me toma as lentes
Me toma a agenda
Me toma os planos
Me autoriza
A olhar o horizonte
Diferente

Sem filtro
Sem enfeite
Sem promessa
Sem espera.

Nó

No esmero
De manter-me bem
Tenho calado
Tenho sido feliz
Mesmo sem ser
Todo tempo
Meus ombros pesam
Meu corpo não.

Ele me acolhe
Me faz melhor
Aceita meu silêncio
Meus convites

Nosso eu-tu
É regado de história
De memórias...
De silêncios
De segredos.

Nosso eu-tu
É assim
Desde o primeiro instante
Ninho
Festa
Nó.

Sem reparos

Uma hora a gente encontra o limite.
Uma hora é declaração de amor
Se não ao outro
A si mesmo.

Eu vim ao mundo
Para amar
Para cuidar
E no outro
Me encontro
Sou mais
No outro me aproximo
Do que sou.

Toda gratidão.

Eis que
Por vezes
Dizer não
É declaração
De amor
Insubordinado
Incomensurável
Indizível...

Amor
Sem medidas
Sem rimas
Sem esquadros
Sem reparos.

Segredos

Ele sabe da minha saudade
Ele sabe que não morro
Não sofro, nem choro
Ele sabe que muito cedo
Cuido das plantas
E dos peixes
Muito cedo
Ele sabe que já sou linda
Um absurdo
Sorriso e olhos abertos
Disposição
Vontade​
Logo cedo
Memória
Saudades
Trabalho e desejo
Todos os dias
penso que ele chega
Uma hora ele chega
E se não chegar
E vou...
Eis que a ordem
Não importa
No final
Tudo é
Trânsito
Transitar
Espero

Verdades

Queria dizer que não dói.
Que vai dar tudo certo.
Suspiro três vezes
Antes de dizer.

Queria não querer
Queria esquecer
Queria dizer
Que nada importa.
Eu digo e repito

Mas importa.
Não me importo.

Para você

Eu esperei
Eu fiz planos
Me enfeitei
Organizei cardápio
Senti medo
Fui feliz esperando
Tinha costela no fogão
Todo afeto
Música no computador
Cerveja no congelador
Minha melhor toalha
O perfume de sempre
Casa arrumada
Plantas aguadas...
Na espera
Aquela que
Precisa esperar
Muito mais tempo
Pelo tempo da serenidade.

Sonho

Sonhei com ela

E me alegrou o dia

Saí por aí,

Movi pedras

No meio dos redemoinhos

Fui fazer o mundo acontecer

Teimei, falei, defendi

Parei, olhei o mar,

Voltei para casa

Ainda estava dormindo

Acordei,

Ela não estava lá.

 

Um tipo de amor

Ele está em mim
Nada posso fazer

Ele me ilumina
De manhã
E entra em cada memória
Cabe em todos os assuntos
Desmancha possibilidades
Incendeia meu corpo
Me banha no mar
Pousa a mão sobre a minha
Caminha comigo fim de tarde
Vê o horizonte que vejo
Teima com meus sonhos
Confronta minhas certezas
Aninha meu peito no dele
Sabe os percursos
Não tenho medo

Me sento
O mar não é sereno
Mas eu
Tento respirar
Não esqueço

Aí
Brota em um sorriso
E invade tudo
Todos os lugares
Todos os espaços
Memórias
Num déjà vu
Do nosso
Não vivido.

O mar

O mar está revolto
Eu estou serena
Mas eu vou
Me balanço
Um pouco mais pra dentro
Ele me empurra
Eu enfrento
Eu afronto
Ele bate mais forte
Eu olho para ele
Deixo ele me tomar
Deixo-me invadir.
Recuo com respeito
Olho de novo
Ele me chama
Eu vou
Vou calma
Não quero afrontar
Quero só que ele me banhe
Que me molhe
Quero ser parte dele
Instantes
Silêncio
Encontro e contato.

O mar estava revolto
Eu também
Eu serenei
ele me acolheu
Me abraçou
Me deixou ser
Quem sou.

O encontro

Ela o vê por aí,
Não é tranquilo
É bom, feliz!
Vê-lo chegar
É intenso, trêmulo
Colorido.

Ele sabe quando vem,
Se prepara,
Arruma um caderno
Tenta ficar
Deixa suas coisas
Como compromisso
Presença renitente

Ela teima
Afronta, se arvora
Na tentativa inútil
De manter-se imune
Ela serena,
É da sua natureza.

Ele respira
Ajeita o que dá
Na esperança
Se acalma-la
Sai mundo a fora
Enfrenta os leões
É do seu feitio.

Ela fala,
Ele se comove
Ela diz, repete, ensaia
Ela carrega em si
Sonhos de cuidado
Arte e compromisso
Ele consegue ver.

Ele fala,
Ela se alegra
Ele diz, repete, ensaia
Ele contextualiza
Convida, insiste, reafirma
Ele tem a força da ação
Da materialidade
Que dá sentido aos sonhos
Compartilhados.

O horizonte
Cuidado, vida,
amor, participação
Mudança e justiça
Nas mãos dadas
Leves, sensíveis
Carinho...
Presença
Potência.

Por hoje

Pensei,
Está tudo dito
Tudo vivido
Tudo no seu lugar.

Eu quis ver
Eu quis constatar
Sou assim
Gosto de saber
O gosto que tem

Gosto de olhar
E sentir a brisa
Leve e serena
Dá memória
A embalar visões

Gosto de cenário
Gosto de história
De drama e músicas
De sons ao redor
De preencher o corpo
Com tons que vivem
Mesmo sem mim
Sensações
Memória encarnada
Inscrita
Com imagem.

Não quero esquecer
Não quero lembrar.