sexta-feira, 25 de março de 2011

Alegre esperança


A minha alegria
Tem um rosto perdido.
Em muitos lugares
Distantes e intensos.
O povo que ilumina o Sertão.
Os olhares
O sorriso
A esperança
São rosas que apaixonam meu coração
E que alimentam minha alma.
Com as cores vivas e vibrantes
Da realidade em movimento
Da construção de cada ser
Que é.

Daqui de dentro
Tudo resolveu parar.
Tá tudo de férias
Em mim.
Da Íris dos olhos teus
Tudo continua.
Tão latejante, pulsante.
Ferve meu sangue e
Meus nervos.
Monocromático
É o mundo.

Do lado de fora,
Distante de tudo e
dos sonhos que sonhei.
As folhas da mangueira
Não se mexem.
Nada bole, nem alegra.
Os carros passam.
As pessoas bebem.
O indizível é dito.
Sem sentido
Nada faz sentido.
E na noite tudo se perde
Na fumaça de cigarros alheios.
A noite chega lentamente
ao som leve das minhas doces lembranças
desde as que carrego junto dos livros e cds
até aquelas guardadas junto as caixas de sapato.
A noite vai seguindo despretensiosamente
Com os cheiros da minha terra
Por vezes seco por vezes úmidos

SOBRE O TEMPO E A ALEGRIA

Hoje, passei novamente por algumas ruas de um lugar, que há muito tempo não via. Senti que os cinco anos que me separaram daquele lugar não constituíam tanto tempo quanto a cronologia me dizia. Enquanto passeava por ali, consegui sentir e lembrar com tanta clareza dos fatos, alegrias e emoções que até me senti mais jovem, mais próxima daquele tempo.
Sabe, parecia aquelas fendas que se abrem no tempo nos filmes de ficção, me senti num portal. E a alegria era tão viva que me fez esquecer o tempo que distanciava os dois momentos que naquele instante permeavam o meu olhar.
Na nossa humanidade fez-se a necessidade de guardar as lembranças, o que de bom, em nós havia. E é para isso que criamos a linguagem, para lançar ao mundo o que só existia em nós, o que só o pensamento sabia, assim procuramos primeiro: expressar. Mas chegou então, o tempo de eternizar as descobertas da vida, veio então a escrita e o carvão, mas apareceu, na vida nossa, algo novo, a vontade de se guardar consigo, ou de se guardar para outrem, e para isso nasce o papel, para nos permitir esconder o que se quer dizer do que está escondido em nós.
Ao ser humano não basta mais dizer, ele precisa de precisão, precisa agora significar temporalmente. E assim dizemos a época dos fatos, é a infância, adolescência, velhice, etc. Mas chega o tempo que esses conceitos já não dizem, chega o tempo de dizermos as décadas – “foi em tal década”. E novamente, as décadas não bastam, vem a temporalidade dos anos, depois precisamos dos meses e depois dos dias e eles também já não dizem e vem as horas, que já não dizem e vem as horas dos dias, mas elas não são claras e criamos os minutos, mas eles também não garantem cientificidade ao que é expresso e então usamos os segundos.
Drummond tinha razão, quando dizia:
“o mundo é grande e cabe na janela sobre o mar, o mar é grande e cabe na cama de amar, o amor é grande e cabe no breve instante de beijar” .
E agora, o que dirá a nós que esse instante é esse instante? Se neste pensamento, já se passaram segundos, minutos, horas – não sei. E os conceitos não clarificam o que vivo, pois só é clara a alegria de sentir – o que só sei que sinto com dor e ânimo – o que a demarcação temporal não poderia dizer de mim.
Mas é por causa dele, do poderoso tempo, que agora estou aqui a escrever, para que ele não desafie minha falha memória, e não leve de mim esse tempo de saber do tempo que há em se viver.

in: Alencar, Rozane. Pulsar, 2000.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Farol da Esperança




Não sei se era cedo ou tarde,
mas parecia tarde de mais pra mim,
por mais que olhasse adiante,
meus olhos não eram capazes de ver.
E se queres saber?
Não sei se vejo...
Mas tenho me apegado ao que construí
Como imagem possível,
E se for só miragem?
Ah, já me perguntei.
Me conforta saber que a caminhada
Vale a pena,
Mesmo sem ponto de chegada
Mesmo sem certeza do sucesso
Mesmo sem incertezas...
Nem tudo é certeiro...
Eis um bom alvo.

Tento ver as sementes, sou semente
de mim mesma, em minhas ações.
Giro, procuro luz, girassol.
Colorido sol de verão,
Capaz de aquecer no nevoeiro que construí.
Pinto de novo, cada cor guardada,
Rompo com o medo... e digo sim,
Sim de novo... e quantas vezes mais.

Tenho soprado nos cataventos
Que movem meus sonhos de lugar,
Ventos me levam pra mais perto de mim.
Procuro nos abraços o som do vento,
Este vento... sopra... a meu favor.
Eu tenho ido mais fundo, mais.
Nutrição, semeadura.

Tenho olhado pra fora,
Num esforço gigantesco
De ver o invisível.
Aquilo que mora íntima
E silenciosamente em mim –
Possibilidade.

terça-feira, 15 de março de 2011

Que cor tem a paixão?

Que cor tem a paixão? Qual sua música? Qual seu tempo? Qual sua paisagem? Qual é sua estação? Qual é o seu lugar? Onde ela mora? Quanta insistência ela merece?
Uma vez me fiz essas perguntas, e tantas pessoas já devem também ter se perguntado. E cada um de nós tem suas respostas.
A paixão tem cor de alegria, de sorriso aberto, de corpo inteiro, de cheiro de mato, de brisa de mar, de banho de chuva, de vinho barato, de mergulho na lagoa, de abraço apertado, de braços abertos, de dançar com os pés descalços, de por do sol, de alvorecer, de lua cheia, de cerveja de manhã, de futebol no domingo, de chuva no verão, de nevoeiro na serra, de claridade no mangue, de peixe frito.
Tantas cores, tantos lugares existem no mundo, “o mundo é grande” como diria o Drummond. Tantos sons e tantas músicas nutrem as memórias.

Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar
Você pega o trem azul
O sol na cabeça
o sol pega o trem azul
Você na cabeça
O sol na cabeça
(L.Borges/R.Bastos)

joana e francisco - uma estória de um amor

Hoje, pude experimentar me embeber de memórias, de recordações. Como diria Riobaldo, as lembranças têm uma propriedade de bailar... de balançar de canto... de se misturar. Quem conta suas memórias junta coisas antigas e novas... e só no momento presente é que vira uma História com começo, meio e fim. O bom... é quando as histórias das pessoas encharcam a nossa vida de sentido. As corridas nos corredores da escola, o sucesso no futebol, as quedas, os cheiros de jasmim, o primeiro beijo, a siriguela de cima do pé, o titi dos periquitos, as palavras gaguejadas. De repente, o não linear, vira história. E os fatos, as alegrias, as dores, os dedos quebrados compõe uma nova expressão, com cores intensas e vivas. Viva a possibilidade de se dizer, de recordar... e acordar para o tempo presente. Assim vou tentar contar uma História, a História de Joana e Francisco. Assim mesmo sabendo que está tudo embaralhado, o antigo e o recente...
Joana nasceu no município pequeno do nordeste. Desde pequena tinha sua graça, menina pequena, contagiante, as crianças são assim. Quando pequena, Joaninha, bichinho engraçado. Quando moça, Joana D’Arc, forte, atrevida, bruxa. Quando mulher, Joana Francesa, apaixonada e apaixonante como quando menina, intensa e impertinente como quando moça.
Joana, mulher de tantas histórias, tantos trilhos, tantas trilhas, tantas cores, tantos tons, tantos sons. Ah! Essa alma sertaneja. E quem vem de lá é diferente do povo daqui, quem vem de lá tem a esperança e a paciência que os campos da plantação ensinaram, cada semente tem seu tempo.
Tempo de a terra poder ser arada, depois que as chuvas dão sinal de chegar. Tempo de jogar as sementes na terra, de trabalhar muito. Tempo de esperar a chuva cair, olhar pro horizonte e conversar esperançoso com ele sobre o quanto ele será diferente. Tempo de ver a paisagem ir se transformando, mudando de cor e alegrando muitos corações. Tempo de colheita, de trabalho árduo. Tempo de sentir o trabalho, de experimentar o fruto do trabalho, doce produto inalienável. Tempo de guardar uma parte – as sementes do próximo inverno que ainda é incerto. Tempo de ver a paisagem se descolorir, descolorir, até o cinza reinar. Tempo de a terra poder ser arada, depois que as chuvas dão sinal de chegar.
E quem vem de lá é diferente do povo daqui, quem vem de lá ama o seu lugar, pois o seu lugar é Seu, se irmana a seus vizinhos, pois eles esperançam e partilham a mesma realidade, casam seus filhos, seus netos, que sonham em vir para cá, estudar, saber, conhecer coisas novas, conseguir um emprego bom. E esperam um dia voltar e fazer tudo diferente, mas igual, lá no fundo igual.
Quem vem de lá, mais parece um mel de abelha, doce, mas protegido por um batalhão de abelhas. Ah, o sertanejo é meio rude também, meio impaciente também, com aqueles que falam de melhoras imediatas no sertão. Eles sabem o tempo da natureza, sabem que as mudanças tem um processo, e que nem chuva cai da noite pro dia, são sábios da simplicidade ensinada pelo tempo, tem o dia, tem a noite, e a vida é assim pelo conhecimento prático deles.
“Todo dia o sol levanta e a gente canta o sol de todo dia, fim da tarde a terra cora e a gente chora por que é fim da tarde, quando a noite a lua mansa e a gente dança venerando a noite” Caetano Veloso
O sertanejo é um poeta, pois canta a vida com a única linguagem que conhece – a da natureza. E assim é poeta, pois os lingüistas julgam que são seres metafóricos em essência, o que ninguém sabe é que “num é metáfora não”, eles cantam a realidade, a vida, a concretude que eles vivem, o mundo que eles conhecem, a roça é a sua generalização do mundo e não figura de linguagem.
Assim , quem de lá vem, tem a simplicidade da terra, da lógica do momento, do amor, da transformação do cinza em flor através do arco-íris que colore o céu e os corações de quem os vê. A simplicidade de não esperar a chuva no verão, de não se afobar com o calor, com a paisagem seca. Ah! isso é algo concreto na vida do sertanejo.
Quem vem de lá, se parece com quem vive aqui, acorda, sente o sol, sente a chuva, tem fome, tem sede, anda, dorme, sonha, acredita em dias melhores, ama, sofre, chora, sorri, dança, canta, torce o pé (com menos freqüência, é verdade), duvida, faz festa, reza, desiste, persiste e insiste. Quem vem de lá, vive bem aqui, até aprende a fazer as coisas que povo daqui insiste em pedir. Mas faz tudo isso diferente, sente diferente a importância dessas coisas, que por vezes parecem não fazer sentido, e diz: “mas se é isso que é preciso eu faço”.
Francisco é um homem forte, daqueles que acordam cedo ... e entende que a vida começa muito cedo mesmo, coisa de homem ocupado ou acostumado desde menino com essa rotina.
Seu Francisco acarrega consigo um tom rude, quem vê de longe o chama de autoritário ... e talvez seja, eu não posso dizer. Ele trabalha, trabalha muito, sabe? parece o povo do sertão, trabalha como quem ama, e vive. Ele, como muitas pessoas, também se aflige, também sai do sério, também cansa.
Setembro estava se encerrando quando a Vida de Joana encontrou a vida de Francisco. Nada de belo os aproximava. Duas pessoas difíceis de longe, difíceis mesmo. Pessoas se encontram no mundo, algumas em torno de problemas, esse foi o caso. Havia muitos problemas e Francisco sabia disso, mas queria soluções. Joana queria soluções rápidas, mesmo dizendo ter paciência.
Os problemas não se resolveram, mas se construiu uma tranqüilidade mínima pra conviver com eles. Durante um tempo eles tentaram se conformar com mudanças possíveis, mas nenhum dos dois atua no campo do possível. Isso talvez os aproxime, eles vão, acreditam, sonham, sonham alto, por vezes se apóiam em atitudes que beiram a irresponsabilidade.
O fato é que foi neste contexto nada favorável que eles se conheceram se descobriram companheiros, colegas, amigos, amantes.
Joana, uma mulher simples, daquelas só quer da vida o que ela lhe oferece. Sente que tem tanto para aprender sobre si e sobre a convivência com as pessoas. Sente-se tão frágil quando é forte, e tão forte em suas fragilidades. Ela tem tido muita paciência, não dá pra negar. Todos os dias leva sua trouxa a beira do rio, onde seu trabalho vira música e encontro. As cores das roupas se somam num cenário de água e pedra. Fluência e quietude. Ela tem vivido um dia de cada vez, e tem sido feliz... sabe que pode ser feliz sempre, tem paciência para ser feliz com o que está vivendo, sem conformação... mas com muita dedicação de fazer de cada dia um dia intenso, capaz de gerar tempos melhores. O futuro se planta no presente.
A sujeira que tira de panos arranca de si também as dores cotidianas. Assim ao final do dia estão todos limpos: a roupa e ela. Joana anda... anda muito, e o mais interessante é que nunca parece cansar, lugar nenhum é longe. Um dia ela me disse que gosta de caminhar nas matas das serras, por entre os garranchos do sertão e nas areias finas do litoral. Às vezes me pergunto, do que ela realmente gosta.
Escutando daqui de fora... parece que não tem expectativas, nem sonhos... sua alegria beira a resignação. Mas quando sento a seu lado, e a escuto: escuto a sabedoria, de quem se guia por princípios maiores de vida. Esses dias, perguntei a ela sobre o amor, queria saber. Ela resolveu não me falar do amor, mas das pessoas que amou. Surpresa! Entendi que Joana não compreende o amor de forma conceitual, mas pelo que o sentimento lhe provoca, em termos de sensações. E foi agradável ouvi-la. Foi como ouvir uma voz serena que ecoa de dentro de mim.
Da última vez que eu vi Joana, ela era diferente... Mais colorida, mais jovem. O tempo passa pra todo mundo e pra ela não foi diferente. Ela continua intensa, voraz, possui um balanço próprio, sua beleza... A beleza que ela acha ter, por vezes, parece até que se olha por um espelho diferente, se acha bela mesmo – e não nego. Ela voltou a fumar, e cada cigarro parece arrancar-lhe uma dor que não se suporta em sã consciência.
Ela resolveu lança-se ao novo... Que de tão novo não pode ser dito. Eu mesma ainda não consegui entender o que significa, ela me contou por horas a fio, não fui capaz de ajudá-la. Sei que tem tom de encantamento com o abismo. Ela disse que foi seqüestrada por si mesma, de si mesma.
Ela contou-me de suas aventuras, suas viagens, as estradas que trilhou os perigos que correu. Contou-me dos caminhos mais curtos, quando queria os mais longos. E dos longos caminhos quando se apressava em chegar a seu destino. Gritou tantas vezes seus medos, que chego a senti-los também... Medo de ir, medo de ficar, medo de partir, medo de ter tantos medos, medo de desistir.
Sei que hoje ela anda por aí. E não sei se a encontrarei, quem sabe ao acaso? Nunca planejamos nossos encontros. Ela anda pelo mundo, pertence a um mundo muito grande, muito maior que o meu. E eu que posso dizer dela? Senão que me lembra os pássaros em fim de tarde voa tão alto... Tão alto quanto é capaz de sonhar.
Eu a vi tão colorida, tinha cheiro de bebida, suada e feliz. Acho que vinha de um bar, parece que dançou, e se dançou, dançou muito. O cheiro era bom, um suor cheio de informações... Convites.
Francisco tem estado mais sereno, tranqüilo, parece feliz. Acho que as chuvas animam corações, alimentam sonhos e vontades - no Ceará chamamos chuva de inverno. Talvez seja isso! Período de plantações, de ver terra molhada, mato alto e verde na beira da estrada. Ele não tem tempo, mas gosta de colher sementes e gosta de vê-las mundo a fora.
Seu Francisco resolveu passear, arejar ... sentir novos ares, se sentir ainda mais vivo. Quem não tem pressa anda a pé... e ele resolveu caminhar, andou muito ... um dia inteiro. No fim do dia parecia cansado, mas possuia uma beleza em seu semblante, dava pra confundir com felicidade ... depois de muita atividade é bom descansar. E ele me disse: depois dessa viagem queria poder dormir.
Pra se achar, às vezes, é preciso se perder. Joana sabia disso. Era domingo quando ela saiu de casa rumo a um destino esperado, mas desconhecido. Domingo é um dia sempre diferente, tem uma velocidade diferente... é mais rápido embora as pessoas estejam bem lentas. O Sábado é o inverso - as pessoas estão ainda muito rápidas, ainda em ritmo de semana e o dia corre tranqüilo, na sua velocidade.
Mas Joana saiu num domingo, com cara de sábado. Era tarde quando ela conseguiu sair, coisas de quem não anda sozinha, andou por muitos caminhos, por vezes beiravam trilhas. Na vida nem tudo é pista asfaltada e sinalizada, às vezes é trilha daquelas que exige muito cuidado, daquelas em é impossível não se perder.
Muita paciência se converte em beleza, um lugar paradisíaco, pra merecer o paraíso é necessária persistência... pelo menos no que tange a natureza, é preciso ir onde não se vai, arriscar-se entre matas, sobre dunas, rios e mar.
Diante do universo Joana abre seus braços, queria abraçar o mundo, a vida ... abraçou Francisco intensamente - diferente de todas as vezes, como forma de acolher e acomodar a sensação de estasiamento que não cabia em seu corpo. Parecia uma menina, sua forma de andar, de olhar, de respirar, de mover-se, de sentir-se diante do novo tão novo. Não dá pra dizer que ela voltou igual, os dois sabiam disso.
Francisco tentou explicar sobre a geografia, a localização... mas Joana não parecia escutar bem naquele lugar. Entre arvores e arbustos, subidas e descidas, sentia seu corpo feliz, intenso e sereno. Joana trouxe algo capaz de ser um elo espaço-temporal com aquele lugar. Em verdade, trouxe potenciais... sementes podem ficar pra sempre, podem geram memórias, gestar sonhos e manter vivo o que é muito vivo. Estar vivo, sentir-se vivo, a natureza é capaz de embriagar... e depois da partida eles se sentiam assim, mais leves, mais eles mesmos.
Um certo dia Francisco viu Joana, ela estava muito feliz, eufórica mesmo. Para Francisco isso não é surpresa. Ele sabe que ela possui em si um encantamento constate com a vida. Joana prometeu a Francisco não esperar mais nada, prometeu que dali em diante era sem promessas. Joana argumenta, tem sempre muitos argumentos. Francisco pensa muito rápido... Sempre retruca, nem que seja pra implicar.
Eles queriam ver outras paisagens, queriam muito pouco desta vez... Em verdade queriam muito mais, queriam descobrir o que desconheciam um no outro. Eles se olhavam muito diferente, tinha cor de convite.
Francisco resolveu então conduzi-la. Joana não parecia ciente, parecia perdida, parecia não saber como se conduzir. Tantos caminhos os uniam, um tempo pra cada coisa... Depois de tanto tempo de espera, o relógio marca um tempo de tranqüilidade... Intensidade... Insanidade.
Joana se lembrou do que já tinha visto nos braços de Francisco, do céu, da névoa, da brisa, da serra e do sertão, da lua, do mar, da chuva. Joana costuma construir laços de memória... Um samba bem cadenciado, com batidas marcadas... Tantas marcas se inscrevem em seu corpo enquanto recorda... Suspira.
Era dia de chuva... tempo fechado, mas Joana queria ver o mar. Ela sempre foi muito impertinente, chega a ser deselegante em sua forma de se conduzir, em conduzir sua vida. Tem por hábito não cobrar contas das pessoas, nem mesmo quando elas devem - um defeito talvez, talvez muito sério.
Mas o fato é que ela decidira ver o mar. O mar sempre foi lugar de metáforas, mas ela queria ser feliz. E destemida foi... seguiu os conselhos que lhe deram: tire as sandálias. Ela nem sempre acolhe bem esses conselhos em tom de ordem... mas sabia que era sábio obedecer as recomendações.
E então pôs os pé no Chão, chão da sua terra, é nome... merece ser escrito com inicial maiuscula - a parte isso. Pisou uma terra fina, areia de praia... leve... brisa leve. A areia banhava seus pés, seu corpo, impregnava-se em seus cabelos enlinhados como seu pensamento.
Enfiava seus pés no Chão... ela gosta desse contato. Contato intimo com seus sentimentos. Horizonte convidativo, quis deitar-se banhar-se inteira daquela inteireza que a inundava.
Olhava pro horizonte como quem procura o invisivel, o seu sertão... ela é do Sertão, ela procura alento para melhor entender o que sentia. O tempo de chuva remetia a tantas memórias... pareciam dar seguimento a alguma coisa que ela desconhecia.
Ela teimava em procurar o que não estava perdido, o que estava bem perto...que de tão proximo não podia ser vivido. O tempo segue seu compasso... e toda viagem tem a hora do retorno, ainda que na partida seja tudo diferente da chegada.
As paisagens mudam sempre, a chuva diminui, o Nordeste deverá mudar de cor. Com que cor ela é feliz? Com que cor ela se pinta?
Joana é mulher com hábitos diferentes, ela gosta de futebol e joga sinuca, anda de vestido como quem dança. Exótico mesmo, não dá pra negar. Ela acompanha todos os campeonatos mesmo se seu time estiver desclassificado. Jogo… cada jogo um enigma… seja onde for, em casa ou fora. Em dia de semana o jogo tem cor diferente, principalmente se não tem cor, apenas som. Pelo radio, e preciso muito costume, pra conseguir visualizar o que o narrado não narra. O time que ela acompanha vence o primeiro jogo da final. No futebol num tem vantagem... Cada jogo – um jogo, 90 minutos inéditos.
Ela então resolve ir ao estádio, segundo jogo da final é sempre diferente... sempre final, no final das contas. Meio de tarde, sol alto, forte, dia claro, tanta gente, tantas cores, multidão... O rádio anuncia: “dezoito mil...”, para ela multidão sem contagem possível. Time em campo, torcida... Torcida, destorcida tantas vezes. Uma música que desconhece, um hino novo, mesmo não sendo seu time - torçe, torçe porque a alegra estar ao lado de cada torcedor, o chão vibra e seu coração também. O desconhecido torna-se amigo de infância, com ele compartilha a angustia e a alegria de cada lance contra e a favor.
Estádio, estado de graça, não dá pra negar: consciência alterada... Pessoas cantam, outras gritam, palavrões unem tantos pensamentos, os juízes atrapalham a vida de cada torcedor, seja de que time for. Incrível ver tantos corpos formando um único corpo que sobe e desce sincronizado, harmonioso. Luzes se acendem ao anoitecer, brilham... Alegram tantos olhos. Os olhos estão voltados para um campo que parece ser pequeno quando o time adversário ataca e tão comprido quando atacamos. Tantas vezes ela levantou... Tantas vezes gritou, gritaram: agora vai – as expressões são confusas, as pessoas se misturam, se confundem, pensam juntas. Cada jogador, herói e vilão da impossibilidade da torcida de fazer os gols, pois só isso a torcida não é capaz de fazer... E tantas vezes tentam. No final do jogo... Ultimo pênalti, coração na boca, o goleiro vira um paredão a pedido da torcida. Delírios... Raivas passam, as brigas se apaziguam, torcedores se abraçam, pouco importa se conhecem. Não, nenhum torcedor cabe em si, enquanto comemora uma árdua e dura vitória, merecida - vitória é sempre merecida para o torcedor vencedor.
A glória... Todos esquecem as dores da partida... Pouco importa todo o resto... Cinco segundos ficam gravados. E assim, em estado de graça Joana volta pra casa. Francisco também estava no estádio, mas nem sempre eles se acham, em verdade eles em geral se perdem.
O tempo passa e já é Junho, um outro tempo. Um novo tempo pra Joana e Francisco. Tantos encontros e tantos mais desencontros. Logo de manhã os convites conclamam o fim da tarde, o pôr-do-sol, a quadrilha junina, o forró.
Joana estava solta, cheia de alegria e energia. Nada podia tirar seu brilho, sua cor, sua vontade. Ela saiu, resolveu, desistiu e decidiu que ia que é tempo de São João, tempo de forró, tempo de dançar e ser feliz. Muitas pessoas esperavam por ela, e ela se coloria com cada encontro, alguns encontros são mais esperados, mas não são maiores que outros. Encontrou tantas pessoas e tantas outras ela não conseguiu ver. Amigos que sentem saudades, nem sempre se encontram. Mas a vida tem seus caminhos, entre encontros e desencontros – sentimentos verdadeiros, admiração. Alguns amigos a gente vê, e dança com eles, alenta sonhos, nutre memórias e constrói novos horizontes.
Ela estava feliz, bonito de ver. Joana queria dançar... E dançou, dançou muito. O som era incrível, e ela estava presente, de corpo inteiro. Rodopiou... Rodopiou como pião. De longe e de perto quem olhar pra ela, sabia que ela havia tomado a melhor de todas as decisões: IR... Seguir, Sorrir, Devir. Entre tantos braços, abraços e confissões.
E no final, suor e êxtase. Fim de festa. Alívio... No fim deu tudo certo, todos alegres, corações tranqüilos, corpos cansados, compromissos selados. Noite terminada, corpos na cama, sono, um bom sono.
No dia seguinte, novo dia. Por vezes é assim, somos tantas coisas ao mesmo tempo, tantas cores vivas e pasteis. Nem sempre o todo forma uma imagem coerente, assimilável pra quem esta de fora.
Joana está feliz, num está mais preocupada com o fim do jogo, sua sorte se ocupa de outras possibilidades. Ela anda como quem não tem pressa. Por vezes se cansa, ela é de carne e osso, também se chateia. Mas tudo é tranqüilo e intenso... Veloz, feroz e sereno.
Guarda memórias em seu corpo, cuida de cada marca, cada inscrição. Cuida da história sua com paciência, não se importa mais com o que se passa com Francisco. Sente que as coisas não precisam mais ser ditas, por isso, os dois teimam em se dizer, por ser desnecessário.
Enquanto segue, desliga-se. Passeia por paisagens que desconhece, até se sente acompanhada, mal acostumada. Todos os dias, dias bons, logo cedo... Ou um pouco mais tarde. É preciso paciência para ser feliz, não importa se é sexta ou terça-feira. Cada um viaja por onde é capaz de imaginar, mesmo sem sair do lugar.
Joana tenta recordar. Francisco tenta ajudar nesta reconstrução histórica. Véspera de Carnaval? Férias? Fogueira de São João? Celebrações Natalinas? Encerramentos? Despedidas? Homenagens? Novidades? Desencontros? ... Encontros?
Um tempo pra cada tempo. Joana se esmera em lembrar, às vezes não consegue. A memória tem esse dom de fazer as coisas dançar, fazer trancelim, se misturar e construir elos diferentes para quem recorda.
Joana costuma sair pra passear pelas ruas. Tantos bares, pessoas se divertem… dentro da noite. De longe ela avistou Francisco, semblante feliz, ele se movia como sempre devagar como quem tem pressa. Ele dizia ter saído para brincar, nada sério. Ele também tem por habito jogar sinuca, se balança... Mas guarda sempre um ar de seriedade. Para Joana é interessante observar jogadores, quando também pretende ser uma.
Bom ... tudo começa assim. Alguém diz sinuca. Para alguns um momento do jogo, para outros fim jogo, ponto final. Os desatentos chamam de jogo, outros chamam de vida, e outros dirão: só diversão. De longe, vê-se que os jogadores estão atentos. Alguns querem ganhar a toda custa, usam muitos subterfúgios, bolas escondidas, frases desconcertantes... pressão psicológica - bonito de ver, quando os jogadores são bons. Alguns dizem que o melhor é jogar...Pra mim ... perder é uma parte das vitórias, pois no final das contas... uns ajudam os outros. Um jogador faz seu jogo no jogo do adversário, que por sua vez reconfigura o jogo. Ganhar ou Perder... pergunto-me, qual a questão. E percebo: questão de tempo, tudo é questão de tempo ... não há como fugir. Gosto de jogar, ver o tempo correr, o mundo se desliga, tudo gira em torno da mesa, pouco importa quanto os jogadores sabem um do outro, importa que de alguma forma, partida a partida, alguém joga... os ponteiros do relógio ditam mais que o tempo... Sinuca? Um jogo.
Sabe, existem tempos que nos confrontamos com coisas muito particulares, com caracteríscas muito próprias, aquelas que durante muito tempo entendemos como o que nos define. Ultimamente tenho reencontrato coisas e formas de perceber o caminhar que estavam guardadas em algum lugar, estavam subcristas, pra num dizer recolhidas... encolhidas. A vida me dizia de urgencias, problemas, dividas. As cores tinham tirado férias do meu olhar, tava tudo meio "branco e preto", tudo muito preto no branco demais, tudo muito claro, obvio mesmo. Objetividade, muita objetividade. E a maior beleza, a loucura, a imprudencia, a ousadia ... estavam de férias - afinal de contas num dá pra dizer que tudo está no roteiro, tudo planejado, medido... tantas vezes somos sem medida!
Encantamento, um certo dia, numa hora qualquer, um sorriso ao vento, um gol de um time amado, um beijo roubado, um ônibus vazio, uma sinuca inesperada, um encontro com um amigo antigo, um desconhecido delicado, um pingo de chuva, um céu ensolarado, uma boa comida, um lugar agradável, uma surpresa.
A vida é mais que planos... a vida é improviso. Escrito ou re-editado ... vivido.
Francisco sempre vai ao mesmo bar, mesmas pessoas, mesmas piadas nem sempre engraçadas, mesmos vencedores, mesma bebida. E o mais interessante, parece que é sempre diferente, inédita, novidade quentinha... Última noticia do jornal.
Seus acompanhantes parecem se divertir também. Por vezes ele se desliga, sai do ar, não sei. Olha para o horizonte, perde seu olhar no desconhecido mais conhecido – Joana escora-se nas colunas, parece esconder-se e sorri. De onde Joana vê parece enigma. Ela tenta desvendar seus pensamentos, qual será sua próxima jogada? Será que ele vai ganhar ou perder a partida?
Ele gosta de jogar, parece que às vezes ganha, mas tem perdido também. As pessoas do bar comentam que ele tem ganhado muitas vezes, mas hoje ele parece não se importar com o resultado. Joana sempre se mostra duvidosa que ele não se importa com o resultado.
Um grupo que se reúne pra jogar é assim. Um grupo que se encontra se agendamentos prévios, tudo a toque de caixa... Eles sabem onde encontrar uns aos outros. Não precisa agendamentos na medida em que já se constituíram como cultura. O bar é uma extensão do trabalho, em verdade é parte dele.
Joana sempre viaja, vai pra longe, mas sempre volta, por vezes demora, por vezes não quer voltar, mas acaba voltando. Ela e Francisco construíram o costume de jogar sinuca – um ponto que os une, por vezes a única convergência.
Eles jogam, e pra ser sincera não consigo perceber quem tem ganhado. Ela sempre alega perder, mesmo quando ganha. Ele diz que não se importa com o resultado. Para mim que assisto ao jogo, parece tudo muito estranho, novidade.
Fim de semana é outra história. Dia de sol, no meio da cidade, na beira do mar ou do rio. Joana percorre caminhos novos, espaços perdidos dentro da cidade. Tanta coisa se esconde na cidade, entre ruas, avenidas, pontes, canais – as lagoas da cidade tem outra cor. De repente um lugar antigo, se traveste de novo, quando visto por alguém que o desconhece. É como abraço esperado, beijo roubado, olhar de encantamento.
Surpresa!!!
Joana se sente feliz nos caminhos que anda, mesmo não planejando, ela sabe que aqueles são os melhores caminhos, com o tempo ela tem aprendido a confiar – ela é a mulher, gosta de se deixar levar. Ao longo de sua vida sempre decidiu o que acontecia, hora, local, programação, mas desta vez ela quer se deixar levar, quer ser conduzida, não quer o controle – quer a beleza do instante pelo tempo que for.
Ela não quer mais explicações, só quer viver um dia de cada vez, sem pressa nem vexame. O rio faz seu curso, algumas vezes esse curso é construído. Assim também é na vida, às vezes algumas coisas exigem paciência. As histórias se constroem com tempo, com histórias, com beleza. O vento balança os cabelos e intensifica os olhares plenos de sentido, no maior todos os silêncios.
Joana está de frente pro mar, entre ruas e estradas. Fim de estrada? Novo caminho, beira de rio. O rio corre pro mar. Os pescadores possuem suas histórias pra contar: pescarias, a sabedoria dos peixes, o movimento das pessoas, os amores vividos, os filhos criados e os perdidos, o sabor da bebida e sono que ela dá.
Joana se colore a cada dia, se sente mais próxima de si mesma. Por vezes dá pra dizer que está mais bela. Ela sente a força da luz dos dias do verão que se iniciam, e nem preocupa-se com as chuvas que retornarão em setembro. Sabe-se capaz de voar dentro de si mesma, para mais perto do que quer e do que sente.
Com o tempo tudo muda. Francisco também muda todos os dias. Quem olha pra ele mais de perto até poderia adaptar o Chico e cantar "esse moço tá diferente". Bom o fato é que anda ainda mais engraçado, num dá pra ser injusto ele sempre foi bem engraçado. Ele tem cor de Joana, de novidade, de inédito, mesmo nos mais banais compromissos. Está mais maneiro em si mesmo, consigo mesmo.
Francisco sai por ai, constrói suas histórias, e todos sabem são muitas histórias. É um desses “cabras” fortes, que a gente encontra nas vilas de pescadores. Mas é também cheio de malícias, de balanços. Ele dança na vida, de manhã me tira Joana pra dançar, a leva com ele a rodopiar.
Ele tem sido doce, e isso é quase inadmissível. Ele tem sido gentil, quase romântico... e ai, isso beira o engraçado. Em verdade é muito bonito todo ele, sua forma de se conduzir, até na deselegância, das palavras jogadas ao vento, com uma finalidade nada delicada: irritar.
Bom, talvez não haja nada de diferente nele, apenas um angulo desconhecido. De repente, não mais que de repente: um homem pode ser visto pelo avesso.
Era dia de semana, segunda ou terça num lembro bem. E Joana decidiu ser feliz. Ela saiu, foi pra longe, foi por caminhos antigos pra não se perder. Encontrou sonhos novos em memórias que resgatam sensações boas de recordar. Queria uma máquina fotográfica, essa aparato que usamos quando não nos conformamos com o que vemos, quando precisamos de provas, quando queremos fazer o tempo parar, quando queremos carregar para outras pessoas o que está dentro de nós. Bom o fato é que não portava esta tecnologia, apenas possui seu corpo, lugar onde poderia guardar com afinco e delicadeza o que vira e sentira.
Agora pensei em descrever o que ela viu, mas acho que se assim fizesse estaria tentando substituir a máquina que na ocasião ela não tinha.
Então... sei que ela olhava para aquele lugar como quem o recompõe, o refaz em outro tempo, outro dia, outra companhia. Preferiu não parar. Preferiu não construir nenhuma vivencia ali, apenas queria em sua memória como cartão postal de um tempo que ainda virá, ou não virá.
Ela foi sem Francisco. Francisco conhece muitos lugares, talvez esse também! Que importa? O tempo é incrível, faz tudo ficar novo. Ela mesma já havia avistado este lugar muitas vezes, centenas de vezes, fez parte de seu caminho por um bom período. O fato é que o tempo passa, ela também, Francisco também, e naquele dia este lugar se iluminou. O lugar lhe deu a sensação nítida de que ele também estava ali, ao seu lado, e que as cores do lugar eram só reflexos do encantamento e da alegria.
É, alguns lugares possuem a habilidade de se colocarem como convite, como possibilidade, como devir. O tempo. Um mestre e vilão. Ele é capaz de grandes ensinamentos sobre a vida, e sobre o viver. Ele é capaz de desbotar imagens nítidas e vivas. O tempo, tempo rei.
Pois é. Joana e Francisco navegam por tempos diferentes... que agregam e afastam. Eles estão aprendendo a lidar com as facetas do tempo. Ambos não são figuras muito pacientes, mas por vezes o são mais do que é possivel.
Joana não nega que encontra acordes e notas... música, pra fazer o tempo correr, até o tempo de sentir-se mais viva. Francisco tenta driblar o tempo e a si mesmo, por um tempo de estar mais feliz.
Eles se encontram nos desencontros e eles mesmos provocam. O tempo é sempre tão curto, ele passa tão rápido ... não dá tempo. A alegria tem dessas, faz o tempo passar diferente, o tempo corre. E todo tempo da distância é comprido, passa devagar ... anos luz.
Cada encontro... um tempo que não retorna. Eles têm procurado viver, sem preocupações nem promessas. Em cada despedida esperam apenas que o tempo passe, passe ligeiro ... até um outro dia quem sabe.
Joana é uma mulher dificil, eu sei que já disse isso, mas é igual placa de trânsito, sempre é bom sinalizar. Esses dias estava decida, se mostrava quase impaciente. E quando ela se sente assim, ela toma um banho de vida. Ela resolveu sair, andar, se colorir, encontrar pessoas, abraçar pessoas conhecidas e desconhecidas, dançar, sentir seu corpo vivo ... seu corpo acompanhando outros ritmos além do seu proprio.
Não sei precisar, mas fazia muito tempo que não via Joana assim, mundo a fora, madrugada a dentro, sozinha, inteira, feliz, leve. Ela saiu e foi encontrar pessoas que foram encontrar pessoas, que foram unir forças e vontades. Joana encontrou-se consigo mesma em tantos rostos, em tantas musicas, em tantos abraços.
Já era tarde quando Francisco a viu. Joana o viu também. Encontros e desencontros. Francisco tem seu ritmo, seu tempo, é tudo muito diferente sempre. Joana não se importa mais. As vezes prefere afastar-se ... um tempo pra cada coisa, um tempo pra cada tempo.
Tantas vezes mais eles se encontrarão por ai, e se desencontrarão tantas outras.
Até o derradeiro desencontro.